Bucha no jeans

Bucha no jeans: Desconfia de quem pretende que só se pode melhorar a totalidade, ou coisa nenhuma. Max Horkheimer

sábado, 13 de novembro de 2010

Sábado em Paranapiacaba

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Paranapiacaba, em tupi-guarani - “de onde se avista o mar”. Nem sempre! Qual a expressão em tupi-guarani para “onde não se vê um palmo à frente do nariz”? Essa era a minha pergunta esta tarde, ao dirigir com as fuças no pára-brisa e andando a pé pelas ruas de paralelepípedo da velha vila. 

Eu conheço o lugar desde pequeno e voltei ali esporadicamente, à caça do contato com a natureza e alguma aventura nas trilhas e cachoeiras. De brinde as ruazinhas alinhadas com suas casas vermelhas de madeira, a onipresença da ferrovia e a parte alta da vila, feito uma sentinela, invejando tudo à meia distância. A visão desse conjunto – mais ou menos nítida, a depender da imprevisível neblina - transporta a imaginação para um outro tempo, um outro país, uma outra dimensão.
O elemento mais singular, no entanto, eu não havia percebido conscientemente: o silêncio. Minha filha falou desse silêncio quando admirávamos uma ampla casa de engenheiro pintada de creme, tão distinta das vermelhas dos operários. Por um momento fechei os olhos e dei uma pausa no exercício sub-reptício de rir da divisão de classes estampada nas fachadas.
Aquele silêncio não era a ausência completa de som. Havia vez ou outra um barulhinho de gente passando, uma queda d’água, crianças chamando um nome. No isolamento da vila encravada na serra e agasalhada pela mata atlântica, o silêncio não é apenas a pausa milimétrica entre um motor de carro e outro, ele reina como a lona sobre o circo.
Se você for a Paranapiacaba um dia desses, vai gostar de ver a torre com o relógio inglês da ferrovia e a exuberância da mata, o conjunto arquitetônico e sua própria versão do fog. Vai deplorar a má conservação de parte do patrimônio, especialmente a própria ferrovia. Mas se tiver a sorte de não se distrair demais com nenhuma dessas coisas, ao virar alguma esquina centenária, pode topar - envolto em brumas e silêncio - com você mesmo. 

3 comentários:

  1. Excelente seu texto... E mais: seu blog está muito legal. Parabéns!

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  2. Tenho boas lembranças de lá... Sempre boas. Uma estação de trem tão diferente das outras (quando o trem ainda chegava até lá). Noites enluaradas...A chuva que te pega de surpresa e te obriga a fazer amizade com uma família inteira. Até mesmo quando fui a trabalho e tive o "maior trabalho" para encontrar quem eu procurava... .Ali parece que o tempo parou. e se recusa a andar. O lugar te obriga a dar uma pausa. Pare. Não se rebele. Faça a pausa. Não vai conseguir não fazê-la.
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  3. O nome remete à minha infância onde passei em Santos na rua Barão de Paranapiacaba ... sempre tive curiosidade de conhecer a vila famosa por sua neblinae há uns 6 anos atrás tive o prazer de desfrutar daquele paraíso bucólico de construções antigas (minha paixão) onde a garoa e a bruma que a envolviam pareciam protegê-la das correrias do mundo moderno. Não, Paranapiacaba não é atrasada; é pequena e simples, porém repleta de charme! Seu passado, tão presente, nos convida a viajar no tempo de nossa própria estória ...
    Parabéns pelo texto e pelo blog! Abraços

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